Importância da história da filosofia em sala de aula.

Uma constatação lógica que um indivíduo faz com certa naturalidade, nem sempre ocorreu desta forma. O ser humano não possuia tal liberdade nem tampouco naturalidade para raciocinar devido à própria existência da razão que nem sempre esteve presente na ordem do dia. Podemos dizer que os primórdios da civilização não pensavam por conta própria, uma vez que delegavam essa tarefa para alguém com autoridade e legalidade para tal. No caso da Grécia antiga essa tarefa era incumbência ora do sacerdote, ora do poeta que cantava a mitologia e os heróis de outrora.

Os fenômenos naturais e a própria consciência humana não eram consideradas livres do crivo dos deuses. As leis causais eram fruto de decisões feitas em assembléias ou em contendas entre homens e deuses, de modo que um homem inserido neste contexto se achava quase que indubitavelmente propenso a relegar qualquer acidente natural como obra de caráter sobrenatural.

No entanto, nesse mesmo contexto nasce a filosofia que primeiramente questiona as origens das coisas diversas e suas transformações. Passa-se, portanto, de uma ideia de cosmogonia, que busca apenas compreender as relações naturais por meio da mitologia, a uma ideia de cosmologia, que busca entender as relações dos elementos da natureza como transformadores dos elementos que a contêm.

Os primeiros filósofos gregos buscaram compreender toda essa sorte de mudanças na natureza de forma racional e para tal fizeram uso de um discurso próprio e de uma análise não dogmática. A tal prática o grande filósofo Pitágoras de Samos deu o nome de Filosofia (amor pela sabedoria). A esses primeiros filósofos preocupados em desnudar a natureza e seu funcionamento se dá o nome de pré-socráticos, ora porque suas ideias destoavam das ideias de Sócrates, ora porque aqueles vieram antes desse.

Toda essa introdução do pensamento clássico, pré-socrático, é de suma importância para aquele que se propõe a estudar filosofia por vários motivos que poderíamos elencar neste texto, todavia, dois motivos já são necessários para que comecemos a compreender o pensamento dos filósofos já citados. Em primeiro lugar, compreender as ideias pré-socráticas implica na compreensão de conceitos caros não somente à filosofia clássica, mas também à filosofia moderna e pós-moderna. Conceitos como Física (Physis), mito (mythos), cosmogonia e cosmologia quando estudados em suas origens fazem mais sentido ao estudante que tenta compreendê-lo atualmente.

Outro legado do estudo das ideias pré-socráticas é a possibilidade ímpar de compreender a passagem de um pensamento mágico e supersticioso para o nascimento da razão e suas primeiras conclusões e legados.

Ao empregarmos o estudo da história da filosofia em sala de aula, não devemos ter em vista esta história como fim da própria disciplina, mas como meio de propiciar o debate filosófico no ambiente escolar à luz da racionalidade concebida e formalizada pelos primórdios do pensamento filosófico, ao passo que temos a possibilidade de discutir os mesmos assuntos ora tratados por esses grandes pensadores, na sala de aula, que não deve ser o único local de debate filosófico, mas que necessariamente precisa ser um deles.

O aporte teórico que o professor possui para a condução de sua aula não pode ser doutrinário, uma vez que suas ideias, ainda que possuam preferência a certas escolas de pensamento, não podem ser unilaterais, propiciando aos alunos a discussão a guisa do questionamento próprio do fazer filosófico. Em suma, é preciso ter uma atitude filosofante no tocante à organização das aulas e dos temas propostos.

Um exemplo para ser trabalhado em sala de aula que poderíamos salientar no momento é o uso de brinquedos monta-monta, bolinhas de gel para aquário e outros artefatos, que podem se transformar com o manuseio, para ilustrar a preocupação dos filósofos pré-socráticos na obtenção do conhecimento por trás deste processo gerador e transformador da natureza.

É possível também criar com os alunos um mito para explicar os fenômenos trabalhados em sala com os artefatos já citados, de modo que os mesmos possam tentar desmistificá-los por meio do discurso filosófico.

Por fim, há uma infinidade de formas de abordarmos a história da filosofia sem sermos pedantes e sem fazermos uso de aulas expositivas o tempo todo. A ideia é chamar os alunos ao debate e por meio dele ser capaz de propiciar a criação de cidadãos críticos e filosofantes.

CORNELLI, Gabriele. CARVALHO, Marcelo; COELHO, Cecília. A Filosofia e o Conceito de Clássico.

In: CARVALHO, Marcelo. CORNELLI, Gabriele (org.). Filosofia e Formação. Volume 1. Cuiabá,

MT: Central de Texto, 2013, p. 51-80.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º edição. Editora Ática.

São Paulo – SP, 2014

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