O local estava todo em ruínas e o soldado não sabia ao certo que direção deveria seguir. Sua bússola quebrara com a queda do paraquedas e agora ele estava perdido e molhado. Onde estariam os seus companheiros?
Ele continuou a andar a esmo até que ouviu uma voz a chamá-lo:
_ Alfred! Alfred! Por aqui, rápido.
Alfred reconheceu a voz do soldado Douglas e correu a seu encontro. O som de balas de fuzil era ensurdecedor e estava há uns 300 metros à frente deles. O equipamento de Alfred estava molhado, inclusive o caderno e o lápis sob o uniforme.
_ Douglas! Graças a Deus eu encontrei alguém do regimento! Você viu o soldado Mackenzie?
_ Não encontrei ninguém ainda. Aqueles que caíram à frente já devem ter sido mortos. Começamos mal, camarada!
_ Não se desespere, soldado. Vamos manter a posição.
_ Os irmãos Bennet também estão aqui escoltando a retaguarda., relatou o soldado Douglas.
Os quatro companheiros de combate estavam escondidos sob os escombros do que antes fora uma bela casa francesa. Eles estavam armados com seus fuzis e não perceberam a chegada de dois soldados da Waffen SS. Os nazistas corriam e tentavam assumir posições no campo de batalha. Por azar um deles viu o Douglas e tentou se esconder.
O primeiro a atirar foi o soldado Richardson que acertou um dos nazistas na perna esquerda. Douglas acabou a investida com uma bala no meio da testa do soldado ferido. Seu companheiro nazi se escondeu na floresta e soou um apito. Instantes depois surgiram mais sete soldados da SS na floresta. Eles cercaram a casa abandonada e começaram a atirar sem piedade. A chuva de balas atingiu primeiro a retaguarda e aniquilou os irmãos Bennet em segundos. Os nazistas estavam muito próximos de matar os quatro soldados.
_ Douglas, venha até o fundo da casa. Temos de ficar juntos. Vamos corra! Gritou o soldado Richardson.
Antes de saírem do posto dianteiro da defensiva os soldados revidaram a investida alemã com uma saraivada de tiros de fuzil, mas infelizmente eles não tinham uma boa visão. O cenário era de terror e os dois sobreviventes estavam em pânico.
Uma granada foi atirada contra os companheiros e eles se jogaram ao chão. Os estilhaços atingiram o rosto do soldado Douglas e deceparam sua mão direita. O soldado Richardson agarrou o companheiro e o arrastou até cômodo seguinte na esperança de encontrar a ajuda dos irmãos Bennet, mas infelizmente o que viu não o agradou.
Douglas agonizava de dor e começou a convulsionar. Seu rosto deformado parecia estar em chamas. O soldado Richardson tentou puxar o companheiro e deixou o fuzil no chão para tentar ajudá-lo. Nesse instante, o soldado Hans da SS entrou na casa para inspecionar a área. O soldado Richardson teve de abandonar Douglas e se escondeu em um cômodo que parecia ter sido o banheiro da casa.
Hans usava a baioneta para espetar os corpos dos irmãos Bennet. Ele logo estaria próximo a Douglas e não havia nada que o soldado Richardson pudesse fazer naquele momento, pois o fuzil havia ficado no outro cômodo.
Exausto ele procurou por qualquer outra arma nos bolsos do uniforme, mas havia esquecido a sua faca no avião ao apontar o lápis. Lembrou-se do lápis! A ideia era absurda e tosca, mas era a única coisa em que ele pensou naquele momento. Precisava de sorte para que só houvesse aquele soldado na casa. Pegou o lápis e esperou que o soldado chegasse mais perto.
Nesse instante houve mais um tiroteio do lado de fora da casa e o soldado Hans se virou para sair. Aquele era o instante perfeito! O soldado Richardson deu um salto e aplicou uma chave de braço em Hans.
Na guerra, matar à distância não é uma tarefa tão complexa, pois o soldado que atira na maioria das vezes nem sabe quem ele acertou, contudo, no combate corpo-a-corpo, quando se encara o agressor a tarefa muda de perspectiva.
O soldado Alfred Richardson enfiou o lápis no olho direito de Hans que caiu atordoado sobre o corpo de Douglas, que a essa altura já estava morto. Richardson pegou o fuzil rapidamente e acertou primeiro o estômago de Hans e depois o seu coração. Havia barulho de sirene e balas por todos os lados e esse era apenas o início do fim.
…
Luciano Aparecido Marques