“Com o engodo de uma mentira, pesca-se uma carpa de verdade.”
William Shakespeare
João tentava não se concentrar nas pessoas ao redor. O seu foco era passar pela alfândega. Ele sabia que o aeroporto internacional de Guarulhos em São Paulo possuía câmeras espalhadas por todos os lugares e a polícia federal ficava atenta ao monitoramento.
Sorrindo e falando ao celular, João era uma figura acima de qualquer suspeita. Moreno de olhos amendoados e com um corpo esbelto de um metro e noventa de altura, sua postura de líder era potencializada pelo traje executivo. O terno Armani azul marinho e o Rolex dourado expressavam seu status quo. Qualquer um que cruzasse o seu caminho o julgaria como alguém muito importante e rico.
Pegaria o voo B312 no Airbus da American Airlines e agora caminhava confiante com uma mala executiva que comprara em sua última viagem a Nova York no verão de 2018.
Sentou-se no saguão próximo ao portão B de onde sairia o voo B312. Falava ao celular e sempre sorria. A sua arma mais eficiente era a auto imagem e a confiança. Uma morena muito bonita sentou-se a seu lado assim que ele desligou o celular.
A mulher era o que costumamos chamar de “mulherão”. Usando um terninho feminino cinza com saias da mesma cor, que lhe contornava a silhueta de forma muito sexy.
João encarou a mulher com uma postura provocativa. Possuía o charme de sorrir com um canto dos lábios para provocar as mulheres.
_ Bom dia, querida. Você está acompanhada?
_ Agora estou, falou a mulher sorrindo.
_ Posso lhe oferecer um café sofisticado no Starbucks? Em troca eu ganho a sua companhia.
Amanda aceitou o convite de prontidão.
No Starbucks os dois trocaram olhares e palavras. Amanda olhava para João de forma um pouco recatada, enquanto ele a olhava de forma provocativa e confiante. Nunca desviava o olhar e sempre sorria. Entre um assunto e outro não demorou para que os dois estivessem se beijando.
Amanda sentia um prazer imenso. Até aquele momento nenhum homem a havia tratado com tanta gentileza e confiança. Eles costumavam evitá-la, talvez por sua beleza estonteante que impressionava e intimidava alguns homens, não João.
O relógio marcava 10:00 e o anúncio de embarque já havia sido feito. Os dois continuavam no Starbucks. Amanda se levantou e disse que precisava ir ao banheiro, João fez a mesma coisa. Em seguida os dois se separaram por um instante.
João comprou uma rosa lindíssima na floricultura do aeroporto e também uma caixa de bombons com licor.
Amanda estava excitada pois aquela era a sua primeira viagem internacional e ela acabara de conhecer um homem fantástico. No banheiro ela retocou a maquiagem e passou mais um pouco de perfume. Sua lingerie era apropriada, mas que loucura, pensou! Teria coragem de sair com aquele homem no primeiro encontro? Bem, nunca havia se deitado com um homem no primeiro encontro, mas com João havia uma química diferente. Talvez poderia ser o início de uma nova vida.
Amanda saiu do banheiro e não encontrou João no saguão. Era muito estranho, pois sua mala ainda estava na mesa do pub e o portão de embarque fecharia daqui vinte minutos. Eles ainda teriam de passar pela alfândega. Esperou por dez minutos e decidiu pegar a maleta de João. Os dois se encontrariam no avião.
Dirigiu-se à fila da alfândega. Havia apenas quatro pessoas na fila: uma família com três pessoas e uma senhora muito obesa. Amanda foi interpelada por dois policiais.
_ Moça, precisamos ver a sua mala. Houve uma acusação anônima.
_ Desculpe-me policiais, mas essa mala não é minha. É de uma pessoa que eu conheci e…
_ Precisamos olhar a mala, agora, senhora!
Amanda entregou a mala aos policiais e para a sua surpresa ela estava cheia de bolinhas de papel e bem no fundo havia dois papelotes de cocaína. A mulher ficou pálida e começou a suar frio dizendo:
_ Essa mala não é minha! Eu conheci um homem hoje. O nome dele é João. Por favor policiais, vocês podem olhar as câmeras. Ele está no mesmo voo que o meu. Pelo amor de Deus!
Os policiais levaram a mulher ao departamento de polícia do aeroporto. O policial Diaz pediu para que o voo B312 fosse interrompido. Uma viatura partiu à pista de pouso para inspecionar o avião e não encontraram ninguém suspeito. Não havia nenhum João.
Na chegada ao aeroporto de Fort Worth em Dallas, a senhora Selma de Carvalho precisava ir ao banheiro. Era muito obesa e mesmo com o calor de 22 graus estava muito bem vestida com roupas pesadas de frio. Dona Selma entrou no banheiro e nunca mais saiu de lá.
Doze horas depois do café prazeroso com Amanda, João estava hospedado no hotel mais luxuoso de Dallas comendo bombons de licor.
Não era uma ação tão prazerosa, mas em algumas horas precisaria inspecionar a própria merda para pegar as cápsulas de heroína que trouxera no estômago.
No Brasil, Amanda foi acusada de tráfico de drogas e pegou cinco anos de cadeia por ser réu primária e o que sobrou de dona Selma foram alguns enchimentos e almofadados no banheiro feminino do aeroporto de Dallas e junto com eles uma rosa bem vermelha.
…
Luciano Aparecido Marques.
Amei esse conto.
Surpreendente !!!
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História envolvente. Parabéns pelo texto bem escrito!
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Obrigado, Rê.
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Grande Luciano, gostei muito desse conto. Tenho certeza que deve fazer parte da vida cotidiana de muitos incaltos ( as ) . Mentes ardilosa a orquestrar maldades!!! Parabéns!!!
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