Aos aficionados, como eu, pelo conceito aristotélico da potencialidade humana como possibilidade intrínseca de realização de obras incomensuráveis, esse pequeno texto deverá servir como reflexão sobre o belo e o grotesco na arte e na vida.
Com a simples reflexão acerca das obras criadas pelo ser humano em todos os âmbitos, podemos considerar que para criá-las faz-se necessário desenvolver uma mente criativa e impulsionada para criação. Ora, o ambiente externo de certo modo propicia ao indivíduo o impulso que mais tarde se tornará parte de sua verve criativa.
Neste sentido, é preciso salientar que também o ambiente interno será fundamental para favorecer o artista na sua criação, afinal, é a sua identidade individual que dá vida à sua obra. A sua individualidade é a marca única que dará o tom de sua arte, e com isso devemos dizer que o artista não é um super homem dotado de habilidades mágicas, mas tem de certo modo, uma paixão diferenciada pelo seu campo de atuação, tal como qualquer outro profissional.
No entanto, é possível criar obras belas se se está cercado de feiura e desalinho estético? Ora, andemos pela periferia da cidade e observemos as malfadadas construções sem nenhum planejamento urbano, estas mesmas fruto da desigualdade social e cultural de nosso país. No entanto, basta nos atentar e veremos cá ou acolá um jardim belo e planejado, um muro lindamente grafitado ou uma casa bem planejada, ainda que humilde.
O mesmo se dá em todas as artes liberais. Vejamos como exemplo a música moderna, que, com arranjos cacofônicos que exaltam o ritmo acima da melodia e letras que servem como uma espécie de hipnose coletiva para a reprodução de apenas um refrão que, não raro induz ao mal gosto e à sensualidade. Ao passo que ainda é possível ouvir uma letra instigante em batidas de hip hop ou até mesmo a bela melancolia bucólica de uma canção sertaneja cuja letra contém um que de filosofia e beleza, como vemos em Luar do Sertão de Catulo da Paixão Cearense.
Foto por Min An em Pexels.com
O discurso que defende a situação sócio econômica como causa do declínio da manifestação cultural tal como ela é, ignora o fato que não é o dinheiro ou a fama que propicia a criação, mas a vontade e percepção do artista. Haja vista a situação social de nosso maior escritor, o bruxo do Cosme Velho, para quem a arte era trabalho, não inspiração deificada, nem tampouco o acômodo social.
Ora, como nos ensina o professor Carlos Nougué em sua belíssima obra “Das artes do Belo”, a finalidade das artes do Belo não é senão, fazer o homem propender ao bom e verdadeiro e mediante ao horrendo, visa a fazê-lo afastar-se do mal e do falso.
Tendo em vista a última premissa, sobre a qual a arte pode ser uma ponte para a verdade, se preenchemos a nossa alma com o horrendo atualmente construído sobre os pilares da beleza e do Belo destronado do bom e verdadeiro, passamos a viver em desalinho com aquele conceito da potencialidade supracitado, de modo que, ao invés de fazer crescer a nossa capacidade crítica de produzir e consumir a beleza tornamo-nos meros consumidores de péssima arte, algumas das quais nem sequer mereceriam ser cunhadas como tal.
“A finalidade das artes do Belo não é senão, fazer o homem propender ao bom e verdadeiro e mediante ao horrendo, visa a fazê-lo afastar-se do mal e do falso”.
Carlos Nougué
Concluo afirmando que nem todas as obras de arte do passado são boas, bem como nem todas as do presente são de má qualidade. Lembremos que generalizar é sempre passível de erros, contudo, atentemo-nos ao fato de que as grandes civilizações em seu auge tiveram na arte o reflexo de sua grandeza.
Luciano Aparecido Marques