Diabetes controlada.

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Crônicas de um diabético

Caríssimos, leitores, nesse terceiro artigo que me proponho a escrever sobre o diabetes eu quero focar no sabor do alimento que destrói a saúde de um diabético. Comecemos por analisar um assunto simples, mas que passa despercebido pela grande maioria dos brasileiros, a nossa dieta.

Pois bem, há uma certa sensação de universalidade nos alimentos que comemos, como se o planeta inteiro consumisse o clássico arroz com feijão, a porção de salada e uma porção de proteína. Não sou médico, mas sempre me falaram que esse modelo de alimentação é o correto. Bem, pode até ser o ideal para uma pessoa que não tem a genética comprometida pelo diabetes.

A alimentação é parte da cultura e, portanto, possui raízes histórico-sociais. Vejamos um pouco das três principais etnias que compuseram o nosso país em sua origem: portugueses, africanos e índios nativos. Cada uma dessas etnias possuíam suas próprias dietas baseadas na cultura e na matéria prima que sua própria terra produziam. Dessa miscigenação nasceu o nosso padrão alimentício. Se pensarmos um pouco além veremos que o padrão alimentício de cada região não foi estabelecido pensando em cada indivíduo, mas no grupo social, de modo que ignora-se as doenças que cada indivíduo pode ter. Sem contar aquelas que não tem nem ao menos o que comer, o que é muito pior.

“Há uma certa sensação de universalidade nos alimentos que comemos, como se o planeta inteiro consumisse o clássico arroz com feijão, a porção de salada e uma porção de proteína”

Passemos agora, meus caros, a analisar o sabor de nossa dieta padrão. O brasileiro, em geral, aprende desde cedo a consumir o sabor doce ou agridoce. O vovô dá ao netinho a balinha doce e inocente que, combinada ao sabor despreocupado da infância, gera prazer em forma de serotonina. A mesa posta no almoço é repleta de carboidrato e açúcar, mais serotonina. Prazer, prazer e mais prazer. E o melhor de tudo, não há esforço, basta comer e o carboidrato faz a sua função de gerar mais e mais prazer em forma de glicose. O problema é que uma hora a conta chega e pela primeira vez, para alguns, passamos a conhecer um órgão que até então só ouvimos falar na aula de biologia da professora Gertrudes: muito prazer, eu sou o pâncreas.

Em seguida, o médico – aquele mesmo que lhe disse que na pirâmide da alimentação saudável, a base era o trigo e as massas, ou seja, carboidrato que lhe manteria de pé e saudável – agora lhe proíbe de consumir o sabor de uma vida inteira, glicose em forma de carboidrato.

O problema é que agora a luta não é apenas em trocar a dieta, mas em abandonar os prazeres da infância e a serotonina gratuita que advinham com ele. Mas, muita calma nessa hora. Há uma solução que é simples até, mas que requer um trabalho importante: mudar o sabor de nosso paladar e produzir serotonina por outros meios que não a alimentação.

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Bem, de forma clara e direta, falemos sobre a dieta do mediterrâneo que se baseia em peixes, hortaliças e frutas cítricas, tudo o que um diabético precisa, uma dieta “low carb”. A palavra “low” em inglês significa “baixo”, portanto, dieta “low carb” é uma dieta baixa em carboidrato. Ao obter essa dieta é importante ter em mente que devemos inserir gorduras saudáveis à nossa alimentação para compensar o baixo consumo de carboidrato.

Outra importante mudança que devemos fazer na nossa rotina diária é o abandono da vida sedentária e a inclusão de atividades físicas, ações que geram muita serotonina no nosso organismo. Portanto, de sobra passamos a ser mais felizes.

Por fim, meus queridos, o verdadeiro desafio é mudar o nosso paladar e acrescentar exercícios para controlar o diabetes tipo 2. Os nuances dessa prática eu deixo aos especialistas, médicos que tem propriedade para nos ajudar, mas lembrem-se, é preciso procurar profissionais atualizados e comprometidos com a ciência, de preferência nutrólogos atualizados.

Luciano Aparecido Marques

Crônicas de um diabético.

Lidando com o emocional.

Galera, lembrem-de de que no último post eu disse que para nós, diabéticos tipo 2, a primeira coisa a se fazer é assumir que estamos diabéticos e não somos diabéticos e que é importante entender que o diabetes tipo 2 é uma doença oriunda de causas diversas, porém, a maior delas é a causa nutricional? Pois bem, hoje falaremos um pouco sobre o fator emocional diante do alimento e como lidar com ele de maneira positiva.

Estar diabético em uma sociedade pró diabetes é uma causa quase perdida, digo quase perdida pois há uma forma de vencê-la, e essa forma se chama informação. Vejamos o caso muito comum; vamos à uma festa de aniversário e nos deparamos com uma infinidade de alimentos apetitosos e que nos causam muito prazer. Alimentos repletos de açúcar que aumentam a nossa serotonina e nos trazem uma sensação deliciosa de alegria, porém, a cartilha que o nosso médico pede que sigamos nos reprime a consumir essas delícias. Portanto, ao invés de ficarmos felizes na festa, ficamos deprimidos. Achamos que a natureza foi injusta conosco, uma vez que outras pessoas não se prejudicam com essas delícias, apenas nós. Esse pensamento já começa errado. Vejamos o porquê.

Os alimentos farináceos e industrializados são repletos de glicose ou frutose disfarçados de delícias inofensivas, mas que podem te levar ao hospital com uma crise de hiperglicemia e, pasmem, esses produtos alimentícios não causam danos apenas aos diabéticos, mas à toda a população. Entendam que não estou endemonisando o alimento em prol de uma causa anti-diabética, mas, contra os fatos fica difícil argumentar.

Desde crianças a sociedade que chamarei de “glicoseocêntrica” nos ensina que o açúcar está associado à alegria e à felicidade. Em partes, essa premissa é verdadeira, uma vez que o açúcar libera alguns hormônios no corpo que geram a sensação de felicidade. Porém, uma hora a conta chega em forma de  carnês chamados: diabetes, esteatose hepática, resistência insulínica, dentre outros. A questão agora é o que devemos fazer para lidar com essa falta de doce “felicidade”? Como nos comportar em uma festa na qual há uma infinidade de alimentos dos quais podemos consumir muito pouco?

Vivemos em uma sociedade “glicoseocêntrica”.

Falarei um pouco da minha experiência. Para mim, o aspecto mais difícil nessas situações de festa é passar vontade de comer os alimentos que fui condicionado a consumir desde minha tenra infância. É muito difícil receber um diagnóstico que lhe inibe consumir os quitutes mais deliciosos e comuns do dia-a-dia. Outra questão que me chateava no início de meu tratamento era recusar o consumo desses alimentos o tempo todo e ser visto como o chato e frescurento da história. Essas questões abalam o lado emocional e produzem um outro problema chamado estresse.

O estresse possui um efeito catalisador que potencializa qualquer doença no organismo, de modo que se não cuidamos do nosso estresse somos sempre uma bomba relógio prestes a explodir. Mas afinal, como é possível lidar com essa situação emocional que acomete os diabéticos diante do carboidrato? Não há apenas uma resposta, mas ensinarei algumas técnicas que podem ajudar. Eu as separarei em duas etapas: como lidar com os gatilhos emocionais e como resolver o problema na prática.

Lidando com os gatilhos emocionais.

Para lidar com os gatilhos emocionais que são acionados quando somos apresentados às delícias que não devemos consumir sem correr o risco de hiperglicemia, é necessário saber as consequências que esse consumo pode gerar. Para isso temos a informação ao nosso alcance. Uma das complicações do diabetes são os problemas vasculares sobre os quais todos deveríamos saber. Pois bem, uma vez compreendidos os problemas que podemos vir a ter através do diabetes, é fácil se convencer que não queremos esse tipo de complicação. Portanto, o primeiro passo para lidar com as emoções é saber as consequências que o consumo de carboidrato refinado pode trazer à nossa vida.

Agora, convencidos das complicações que a má alimentação pode trazer à nossa vida, passemos à etapa 2 do processo. Nessa etapa, eu costumo utilizar algumas técnicas de programação neurolinguística que funcionam muito bem. Para a PNL, nós possuímos uma estrutura mental construída a partir da linguagem. Essa estrutura constitui uma espécie de “mapa ” através do qual interpretamos a realidade, a qual podemos denominar “território”. Uma das premissas fundamentais da programação neurolinguística é a fórmula: o mapa não é o território.

Na prática podemos afirmar que a grande maioria da população utiliza o mesmo mapa em territórios diferentes, isso significa dizer que para nós, que estamos diabéticos, é necessário atualizar aquele mapa da infância, para a qual o açúcar era a felicidade, diante de um outro território chamado realidade, para a qual a saúde plena é a felicidade.

Partamos para a última etapa, que é  a prática diante da situação. Uma vez atentos ao fato de que o mapa não é o território e de que a felicidade está muito acima do consumo de carboidrato refinado e frutose, é necessário dizer “não” aos possíveis efeitos colaterais da falsa felicidade e abrir-se à nova vida. Como colher esses efeitos?

Resolvendo o problema na prática.

Eu não poderia chegar ao fim desse texto sem falar sobre o outro lado da moeda, ou seja, os prazeres que um diabético tipo 2 pode ter.

O primeiro prazer é o consumo de qualquer alimento que pode ser feito a partir de receitas próprias para diabéticos. É possível aprender essas receitas com especialistas da área na própria Internet, portanto, mãos à obra.

O segundo prazer é a prática de exercícios físicos. Sabe aqueles hormônios que o consumo de doce libera no organismo? A prática de exercícios físicos também o fazem, mas sem efeitos colaterais. Vamos levantar e praticar?

Por fim, não esqueça que a pessoa mais importante do universo é você mesmo. Portanto,  cuide de si mesmo para que você possa cuidar daqueles que você ama. Trate-se com amor para que possa tratar os outros com esse mesmo amor. E lembre-se, quando lhe oferecerem algo que você não pode consumir,  recuse educadamente e não tenha vergonha de dizer que está diabético e não pode consumir esse alimento. Não fique triste, pois afinal, sempre existe uma receita deliciosa que você poderá preparar em casa e substituir por aquela que lhe faz mal.

Luciano Aparecido Marques

Crônicas de um diabético.

A cultura nos adoça e adoece.

Gente do céu,  a fome de um diabético não é por alimento, mas por carboidrato. Falo isso como marinheiro de primeira viagem. Recebemos um choque quando o médico diz “Meu filho, tu és diabético. Agora não poderá mais comer doces e terás de tomar remédio a vida toda”. Convenhamos, a sentença é quase a morte, certo? Errado!

Depois de receber a sentença acima a minha qualidade de vida começou a melhorar exponencialmente. Primeiro, porque eu decidi que seria feliz independentemente das circunstâncias; segundo, porque a vida após os 40 anos é uma escolha; ou você passa a vivê-la com mais intensidade, amor e longevidade, ou já compra o passaporte da morte dolorosa aos poucos.

O diabético tipo 2 como eu tem basicamente 2 escolhas e para isso utilizo um trechinho do salmo 1 :

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Sl 1,1-2

Nós, diabéticos tipo 2 poderíamos com todo respeito acrescentar a essa recomendação divina o seguinte texto:

“Bem-aventurado o diabético que não consome carboidrato refinado, glicose e comida industrializada. Antes tem o seu prazer nos carbos fibrosos e de baixo índice glicemico, o consumo adequado de proteínas, bem como o consumo de água adequado e os exercícios físicos para seu bem estar e saúde”

O maior desafio para nós,  irmãos, somos nós mesmos. Digo isso com conhecimento de causa. Quando descobri a minha diabetes tipo 2, eu mudei tão drasticamente a minha rotina diária, que não me reconheço mais e, para isso você não precisa e nem deve querer mudar a cultura de consumo hiperglicemico da sociedade ocidental. Quem deve mudar é você!

Proponho-me a escrever uma série de crônicas sobre o assunto que é muito sério e requer um cuidado diário. Porém, sem perder o humor, caminharemos juntos nessa série “Crônicas de um diabetico” na qual irei apresentar situações para lidar com essa doença nutricional, que, por pior que possa parecer, pode se transformar em benção nas nossas vidas.

Comecemos com o dia fatídico…

Sete horas da manhã.  Após uma noite mal dormida um belo café da manhã “saudável”. Pão integral com margarina vegetal e café com leite adocicado. Para arrematar, um belo pedaço de bolo industrializado, afinal é necessário comer bem para lidar com o dia estressante.

Chego à clínica médica com o exame de glicemia em jejum exemplar. Todo orgulhoso, entrego nas mãos da doutora endocrinologista que olha atentamente ao exame. Faz alguns comentários que a princípio ignoro, afinal a minha vida tem sido um poço de alimentação saudável: produtos light, diet e com zero açúcar.

A doutora percebe minha falta de atenção e como uma mãe a dar bronca no filho adverte:

_ Olhe bem para mim! Nos meus olhos! Sua hemoglobina glicada está quatro vezes maior do que o padrão. O senhor está diabéticos!

Sem compreender o veredito final acompanho todas as recomendações com atenção e saio do consultório triste.

O que fazer agora, meu Deus? Não vou poder comer as delícias pelas quais eu era viciado a vida toda? E agora?

Passo na farmácia e compro o remédio prescrito. Daquele dia em diante a minha vida começa a mudar e, acreditem, para melhor.

A mente funciona como o farol da alma, o olho do espírito, que deve guiar o corpo com sabedoria. E nesse caso, era questão de vida ou morte.

Deixe-me apresentar-lhes o diabetes. Eu o conheço há alguns anos, pois perdi entes queridos para essa doença.

Sempre achei que diabetes eram as chacretes do diabo. E até que eu não estava tão errado! Essa doença, em se tratando de diabetes tipo 2 é meramente nutricional e oriunda de maus hábitos, ou seja, se você a possui, saiba que o caminho para a cura também é nutricional e se cura com bons hábitos.

Sempre achei que diabetes eram as chacretes do diabo. E até que eu não estava tão errado!

Luciano

O primeiro hábito que um diabético tipo 2 deve assumir é a frase: “estou diabético” e não “sou diabético “. Assumir essa premissa é importante, pois é a partir dela que começamos a nossa cura.

É importante também seguir a prescrição médica quanto à medicação e mudar os hábitos alimentares. Lembre-se, você não é diabético, você está diabético, ou seja, essa condição é temporária.

Termino esse primeiro texto deixando um link do médico dr. Patrick Rocha, especialista em diabetes, que irá ajudá-lo nessa caminhada.

Por fim, no segundo texto da série,  falarei de como lidar com o emocional e o diabetes.

Um abraço a todos.

Luciano Aparecido Marques