O autor que merecia o Nobel.
Miguel Torga, pseudônimo literário do médico Adolfo Rocha, nasceu em S. Martinho de Anta em Trás-os-Montes em 12 de agosto de 1907. Aos treze anos de idade ele embarcou para o Brasil, morou e trabalhou durante cinco anos com um tio em uma fazenda na região de Minas Gerais.
Em 1927, já em solo português, o autor participou da fundação da revista “Presença” em que colaborou continuamente. No ano seguinte, Torga ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra onde se formou no ano de 1933. Dois anos antes de sua formatura, o autor publicou seu primeiro livro, intitulado “Pão Ázimo”; daí em diante sua obra se proliferou durante os anos, tais quais as uvas de uma videira muito frondosa. No ano de 1995 o autor morre e deixa uma vasta obra. Segue abaixo a relação de suas principais obras em prosa:
Prosa:
Pão Ázimo, 1931 – A Terceira Voz, 1934 – A Criação do Mundo, os Dois Primeiros Dias, 1937 – O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938 – O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939 – Bichos, 1940 – Contos da Montanha, 1941 – O senhor Ventura, 1943 – Um Reino Maravilhoso, 1941 – Trás-os-Montes, 1941 – Conferência, 1941 – Rua, 1942 – Portugal, 1950 – Pedras Lavradas, 1951 – Novos Contos da Montanha, 1944 – Vindima, 1945 – Traço de União, 1955 – O Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974 – Fogo Preso, 1976 – O Sexto Dia da Criação do Mundo, 1981.
Esboço temático da produção de Miguel Torga.
O primeiro grande tema que podemos destacar da produção de Miguel Torga, seja em verso ou em prosa, é o apego à terra que se mostra presente em seus personagens e “eus- poéticos”. Não é um apego meramente nacionalista, mas um apego universal e solidário que toda a raça humana tem, por medo da morte. Vejamos como exemplo o poema abaixo extraído de sua antologia poética:
A Vida
Povo sem outro nome à flor do seu destino;
Povo substantivo masculino
Seara humana à mesma intensa luz;
Povo basco, andaluz,
Galego, asturiano,
Catalão, português:
O caminho é saibroso e franciscano
Do berço à sepultura;
Mas a grande aventura
Não é rasgar os pés
E chegar morto ao fim;
É nunca, por nenhuma razão,
Descrer do chão
Duro e ruim!
Outro grande tema desenvolvido pelo autor é a morte, muito presente em seu livro Bichos. Neste livro, o autor insere como pano de fundo personagens humanas e animais, porém, ambas com características peculiares. A morte é vista em “Bichos”, não como uma libertação à moda romântica, nem tampouco como algo negativo, mas simplesmente algo natural e inevitável.
Para encerrar esse pequeno esboço não posso deixar de citar outro tema presente em sua obra, a religiosidade. Através desse tema, Torga conseguiu produzir um belíssimo conto, intitulado Jesus, e presente na obra “Bichos”, que na minha opinião é um de seus melhores livros. Vale a pena ler Miguel Torga, sem dúvidas.
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Luciano Aparecido Marques