A arbitrariedade do signo linguístico: um mergulho em Borges.

No ano de 2003 eu me deparei pela primeira vez com o termo saussuriano da “arbitrariedade do signo”. Para mim foi estranhíssimo entender o que esse conceito significava em sua totalidade, e a princípio eu o entendi como qualquer marinheiro de primeira viagem o faria: o signo linguístico e a realidade física não tem relação entre si.

Pois bem, essa primeira conclusão simplista levou-me a crer que Saussure não havia proposto nada além do óbvio e, mesmo após a leitura do Curso de Linguística Geral o termo não se clarificou, no entanto, anos mais tarde, ao ler um artigo do linguista Rodolfo Ilari, as minhas impressões começaram a se modificar.

O conteúdo linguístico não possui relação com a forma, e mais do que isso, a própria estruturação do mundo por meio da linguagem não se dá da mesma maneira, de modo que um conceito cuja origem possui um embrião cultural próprio, não terá a mesma carga semântica em outro idioma.

[…cada língua organiza seus signos através de uma complexa rede de relações que não será reencontrada em nenhuma outra língua.] Ilari.

Postas essas primeiras elucubrações veremos alguns trechos de um conto metafísico belíssimo de Jorge Luís Borges que ilustra bem o conceito saussuriano. Trata-se do conto “Tlön, uqpar orbis tertius” que se encontra na coleção do autor intitulada “Ficções”. O texto possui desde o início um tom metafísico e a principio autobiográfico, porém, ao lê-lo constatamos que o narrador mistura a ficção à uma certa realidade que se descortina em forma de relato.

Em dado momento, o narrador e seu amigo procuram por uma enciclopédia britânica que possui uma citação que fora dita por um deles, mas que é descreditada pelo outro. A suposta citação faz menção a um povo lendário, mas que segundo um dos amigos que teria lido a tal enciclopédia, o fato seria verídico. Após certas idas e vindas em busca da tal enciclopédia, o narrador consegue uma cópia que não apenas trás a citação que gerara a busca, mas também encontra certos fatos narrativos acerca dos povos dessa tal terra mística. Em dado momento o narrador trás o seguinte relato:

“Não há substantivos na conjectural Urprache de Tlön, da qual procedem os idiomas atuais e os dialetos: há verbos impessoais, qualificados por sufixos (ou prefixos) monossilábicos de valor adverbial. Por exemplo: não há palavra que corresponda à palavra lua, mas há um verbo que seria em espanhol lunecer ou lunar. ‘Surgiu a lua sobre o rio’ se diz ‘hlör u fang axaxaxas mlö’, ou seja, na ordem: ‘para cima (upward) atrás duradouro-fluir lunesceu’.”

Observem que para não falar uma determinada frase, cujo paradigma sintagmático seria: sujeito – verbo – predicado, a lógica do sistema indo-europeu se fragmenta. Não obstante a falta de lógica estrutural, a própria “imago mundi” se perde, uma vez que na conjectura Uprache, como o próprio narrador ilustra em outra parte “o mundo para eles não é um concurso de objetos no espaço; é uma série de atos independentes.

Em outro trecho do conto, o narrador nos apresenta um exemplo de outro idioma falado em uma região denominada “hemisfério boreal”:

[…] a célula primordial não é o verbo, mas o adjetivo monossilábico. O substantivo é formado pelo acúmulo de adjetivos. Não se diz lua: diz-se ‘aéreo-claro sobre redondo escuro’ ou ‘alaranjado-tênue-do-céu’ ou qualquer outra composição.

Observemos que neste segundo caso o falante de tal idioma teria como “imago mundi” os adjetivos de modo primordial, enquanto que o falante do primeiro exemplo a teria enquanto verbo. Para o primeiro grupo, as qualidades seriam os fenômenos preponderantes da realidade, ao passo que para o segundo seria a ação.

Por fim, essa pequena análise sugere que a formação linguístico-cultural de cada língua possui o seu próprio mecanismo de analisar a realidade, de modo que a linguagem expande mas também limita a visão de mundo do ser humano.

Luciano Aparecido Marques

BENTES, Anna Christina, MUSSALIM, Fernanda, organizadoras. Introdução à linguística. Fundamentos epistemológicos. 5. ed. – São Paulo: Cortez, 2011.

BORGES, Jorge Luis. Ficções. São Paulo. 2007. Companhia das Letras.

Um mais um é igual a tudo.

O que seria da minha vida sem você?

O faroleiro sem companhia,

Ou o ébrio jogado na sarjeta?

O fato é que a vida não seria

Mais do que um universo sem planeta.

Qual seria o rumo a tomar sem você?

Não seria apenas uma cisterna vazia,

Um oásis feito de miragem,

Cuja opaca e languida apatia

Sobreporia a paisagem de tal imagem?

A que conclusão chego em tal querela?

Sou o que tu vês

Porque tu és em mim

E o derradeiro fim

Sou eu em você.

…..

Luciano Marques

Aos católicos

Da trilha que o orante percorre
Jesus há de ser o centro,
O destino final e concreto

O conforto no caminho é Maria
O contato direto é o terço
Em cuja oração imersos

Os sábios já sabem
Que para tal dádiva não há preço
E mesmo que se quisesse o inverso

E com ouro lhe enchessem o alforje
Ainda assim tal adereço
É nada comparado ao Eterno.

Luciano Aparecido Marque

Projeto de literatura para o Ensino Fundamental II

Como professores de literatura e linguagem temos de lidar com o aspecto motivacional dos alunos no tocante à leitura, e isso é, no meu ponto de vista, o fator mais desafiador das aulas. Vivemos inseridos em um mundo no qual o bombardeio de imagens e estímulos das redes sociais roubam o precioso tempo e a atenção de nossos alunos e com efeito, sobra pouco espaço para a leitura.

Uma ideia para estimular os alunos à leitura é criar um projeto que não se resume à leitura da obra e a feitura de uma prova ao término da mesma. Não há nada menos estimulante do que dizermos aos alunos que eles devem ler determinado livro, pois essa matéria irá cair na prova. Broxante ao extremo!!!

Logo, foi pensando em todos esses aspectos que procurei juntamente com a professora de português fazer um trabalho interdisciplinar entre as disciplinas de língua inglesa e de língua portuguesa com os alunos do ensino fundamental II. A partir da leitura da obra “A Terra dos Meninos Pelados” de Graciliano Ramos, os alunos montaram um projeto que contemplou não apenas a leitura da obra, mas um processo por meio de um percurso pedagógico que envolveu leitura, debate e produção de texto.

Segue abaixo um esquema desse percurso:

Os alunos do 6º e 7º anos leram a obra e produziram um resumo do livro em inglês. Eles também escreveram um diário e fizeram um cartaz da terra dos meninos pelados (Tatipirun), como se eles próprios a tivessem visitado. Segue abaixo alguns trechos de ambas as produções.

The book tells the story of Raimundo, a young boy who had no hair, and had each eye in different color. Due to that he was always provoked by his friends.
One day he crossed the yard and walked and walked along. Suddenly he came across an orange tree they talked to each other and he got an orange.
He walked a little further and came across a rock they talked to each other and he walked away again…
Further on he found a chest, he met her with a spider that gave him clothes from there.
He made a lot of friends and promissed to come back with more friends…

(17/09/21) Meu querido diário,  hoje foi um dia terrível!!! Eu entrei na sala de aula e todos já começaram a rir. Eu odeio essas pessoas, por que será que elas zoam tanto comigo? Parece até que eu sou um inimigo. Hoje contei pra minha professora sobre Tatipirun, ela disse que eu sou louco e disse que se eu ficar imaginando coisas vou acabar com a minha vida. Tenho tanta saudade de Tatipirun, todos são legais lá, e todos são iguais a mim.

E se Tatipirun existisse? Como ela seria?

Aos alunos do 8º e 9º anos coube escrever poesias e um pequeno ensaio em inglês sobre os aspectos positivos e negativos da obra. Por fim, os alunos escreveram uma crítica de cinema em inglês sobre a suposta adaptação ao cinema da obra literária. Seguem um exemplo abaixo.

A bela Tatipirun

Havia uma terra

Onde todos eram iguais

Chegava passando por uma serra,

Tatipirun era demais.

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Nessa terra os meninos eram sensacionais.

Todos tinham olhos azuis e pretos,

Eram pessoas ruins? Jamais!

Todos tinham seus jeitos.

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Uma terra sem preconceitos

De objetos, animais e plantas.

Todos tinham os seus direitos.

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As pessoas eram rabugentas,

Eram todos calvos

E todas as crianças vivem juntas!

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The Land of Naked Boys counterpoint.

The Land of Naked Boys, the Land of Raimundo and his imaginative image of a world with friends, where everyone was equal. Drawn on the floor of his sidewalk, crossing the walls of his house and arriving in this country, Tatipirum.
Graciliano Ramos’ book shows us the prejudice that many people suffer because of their differences. Upon entering a new world, in which he was included, the author shows us that we are all similar and that we should be treated with equality and dignity, accepting each other’s differences. In addition, the language is easy to understand and can be understood by beginning readers.
Graciliano Ramos wrote a book called The Land of Naked Boys, a book about bullying and also about the suffering of a child for being different. The child called Raimundo was mocked for being bald and having an eye of every color. The author of the book focused on the part where the child imagines being enough for everyone, happy and joyful, even if only in their imagination.
However, the work presents the thoughts of a child who chooses his responsibilities first, even imagining something better. The author shows us a responsible child, who first decides to do his task, and then have fun. The book is an educational reading and makes us reflect on the children’s thoughts, in addition to the difficulties they need to deal.

The Naked Boys’s Land – Film Review

The Naked Boy’s Land is a fantasy film directed by Steven Spielberg. The film is an adaptation of a book with the same name, that was written by Graciliano Ramos and released in 1939.

Raimundo, the main character, is starred by Millie Bobby Brown. He’s a lonely boy who ends up in a completely different and perfect place. He feels so happy to be in this new world since, in his city, he was bullied because of his facial features.

Foto por Photography Maghradze PH em Pexels.com

The cast of the film was composed of children with cancer, having the intention of giving them a little more fun. It was actually a “support” for them, where all the money received went to the construction of a charitable institution. 

The film won many awards mainly because of its very special purpose and  the awesome screenplay and soundtrack. Millie Bobby Brown made a great work as part of the cast, consequently winning an Oscar. 

We recommend this movie for everyone, from everywhere, but especially for kids, so they can  learn that judging people by their features is wrong and we should treat everybody equally.

Conclusão do projeto

Ao término de todo o projeto literário, criamos um blog juntamente com as crianças e estimulamos a produção textual dos alunos. Caso alguém se interesse por visitar o blog, segue o seu endereço: https://viagemescolargasparzinho.wordpress.com/blog/

Por fim, o trabalho com a literatura deve ir além da leitura da obra, esse mesmo trabalho deve proporcionar aos alunos um olhar rico e diferenciado da literatura.

Luciano Aparecido Marques

Canalhas!

“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade.”

Joseph Goebbels

Não havia nenhuma forma de conter a agressividade dos jovens da Rua dos Morgados. O mais perigoso do bando era Zé Antônio. Cara amassada e pescoço encolhido para dentro dos ombros, com uma expressão de espantalho oco. Tivera sua infância roubada nos tempos em que morara em Feira de Santana. O sorriso tomava-lhe a cara sempre que estava em ação. Por isso o apelido de “sorriso do diabo”!

Marcelina era o engodo de dezoito anos. Suas pernas torneadas e o corpo estrutural eram a isca perfeita para os patifes do submundo da prostituição. A cada vítima que fazia, ela ganhava uma joia do irmão Marcelo Grandão. Por isso já contava com tamanha quantia de anéis e colares que já podia até abrir uma joalheria, o que inclusive figurava em seus sonhos difusos.

Marcelo Grandão era quem controlava o esquema do golpe do morro dos Aimorés. Extorquira muitos para chegar lá e com certeza não hesitaria em tirar vidas.

O esquema era o seguinte, atrair qualquer vagabundo calhorda e pedófilo ao ninho de cambraia de Marcelina e depois roubar seus pertences, dignidade e a vida pessoal. Quem se importava com esses calhordas, afinal eles não eram melhores do que o bando!

Naquela noite a próxima vítima ao que tudo indicava se chamava Armando Nogueira. Marcelo sempre conseguia a informação no site de relacionamento e com a ajuda do senhor X, cujo rosto o bando nunca vira, ele hackeava todas as informações do contratante. Depois era só depenar tudo o que ele possuía, bens, dinheiro e dignidade. Era um jogo muito rentável.

A última vítima era um tal de Manuel Dias. Casado, pai de três filhos e dono de uma revendedora de automóveis. Presa fácil que até hoje depositava trezentos reais por semana para ter sua “honra” encoberta.

Marcelina nunca chegava a consumar o ato, porque sempre que a vítima chegava ao quarto de hotel ou motel, era interceptada por Zé Antônio, que fazia o trabalho sujo com a arma que roubara do avô aos quinze anos de idade. Tinha sido muito fácil até o cliente Armando Nogueira aparecer.

Agendado o encontro para sexta-feira do dia 13 de novembro, o tal Armando contratou os serviços de Marcelina por mil e duzentos reais, o valor mais alto pago até aquele momento.

O bando passou o dia pelas redondezas, na vila das Araras. Almoçaram juntos no requintadíssimo restaurante dos Silva e depois passaram no Shopping Central para comprar a joia da Marcelina.

_ Mana, você precisa comprar essa joia antes do negócio, mesmo? Resmungou Marcelo Grandão.

Com um olhar de fogo atento às artimanhas do irmão, Marcelina respondeu:

_ Você sabe que eu só trabalho depois de ter a minha recompensa, não é?

_ Você já deu de graça para um monte de marmanjos, agora fica exigindo cota! Porra, você nem vai dar para o sujeito!

_ Vocês estão falando alto demais! Querem estragar tudo? Sussurrou Zé Antônio.

_ Ou compra a joia ou estou fora! Esse sempre foi o combinado! Respondeu Marcelina.

O bando se dispersou depois de ter comprado a tal joia. E marcaram o encontro no local indicado. Marcelo pegaria o tal do Armando no terminal de ônibus Central e depois o deixaria no Hotel Cambraia conforme o combinado. Zé Antônio esperaria no quarto para surpreender o casal que se encontraria no saguão do hotel e depois começariam a tortura psicológica e o roubo.

Armando era muito diferente dos demais. Em geral os clientes eram mais velhos e não possuíam boa aparência. No entanto Armando era uma mulher de aproximadamente vinte e cinco anos de idade e parecia uma modelo dessas de comercial de tevê.

Possuía um leve sotaque espanhol que Marcelo Grandão percebeu logo de cara. No caminho ao hotel, Marcelo conversou com a cliente como se não soubesse de nada. Era parte do esquema que o contratante possuísse um motorista que o levasse ao local indicado para não causar nenhuma suspeita.

_ Desculpe-me a intromissão, minha querida, mas você vem à nossa cidade a negócios? Perguntou Marcelo.

_ Sim, meu caro. Ficarei hospedada no hotel essa noite, mas partirei logo pela manhã. Você pode me buscar às 5:00 da manhã? Você sabe, eu preciso de sigilo nos meus negócios, ok?

_ Você não vai passar a noite no hotel, sua puta, pensou Marcelo e em seguida respondeu: é claro, minha querida, estarei esperando no saguão.

Marcelo deixou Armando na porta do Hotel. A mulher o presenteou com uma caixa finíssima de drageados de chocolate com licor.

 Marcelo partiu para casa que ficava a poucos quarteirões dali. Acendeu o cigarro e estacionou o carro na garagem. Não desceu do veículo, porque sabia que o esquema sempre durava menos de uma hora, período em que voltaria ao hotel para pegar a irmã e o amigo. Ligou o rádio e começou a ouvir música ao mesmo ao tempo em que devorava os deliciosos drageados.

No saguão do hotel, Armando conheceu Marcelina que a acompanhou ao quarto. Na chegada ao local, a contratante disse:

_ Querida, eu preciso ir ao saguão, pois esqueci de uma coisa que será muito especial.

_ Pois não, linda! Irei me preparar todinha para você. Respondeu Marcelina.

No banheiro do saguão, a senhorita Armando retirou uma pistola semiautomática de uma cinta que carregava debaixo de seu terninho e nela instalou um silenciador. Depois disso urinou e assobiou “Satisfaction” do Stones. Voltou ao quarto sem lavar as mãos.

Ao entrar no quarto ela se dirigiu direto ao closet onde Zé Antônio estava escondido, abriu a porta do móvel sem que Zé pudesse reagir e disparou um tiro a queima roupa na cabeça do sujeito que caiu no chão com os olhos lânguidos de cor de suco de limão.

Ao ouvir a queda, Marcelina saiu do banheiro e foi abordada por Armando que disse:

_ Eu tenho três serviços para você. Se me obedecer, você viverá para ver o dia de amanhã, senão eu te mato aqui mesmo.

Marcelina se assustou muito e chorando respondeu:

_ Sim eu vou colaborar. O que você quer de mim?

_ Primeiro você vai me ajudar a esconder esse corpo e vai ligar para o seu irmão dizendo que está tudo sob controle e que ele pode vir me buscar no horário combinado. Depois você vai trepar comigo! Por fim eu irei para casa e iremos esquecer que isso aconteceu, ok?

_ Tudo bem, mas não me machuque, por favor!

As duas esconderam o corpo de Zé Antônio no closet e Marcelina ligou para o irmão:

_ Mano, eu já consegui extorquir a safada! Você pode vir nos pegar às 5:00 amanhã de manhã?

_ Você está maluca! Porque devemos esperar tanto tempo?! Cadê o Zé? Eu quero falar com ele! Respondeu Marcelo Grandão.

Armando tomou o telefone da mão da Marcelina e disse a Marcelo:

_ Acabou, seu filho da puta! Eu tenho a sua irmã e se você não fizer o que eu mandar, ela vai virar presunto junto com o seu amigo.

_ Se você tocar em um fio de cabelo da minha irmã, eu te mato!

_ Eu já estou morta, meu filho. Eu não sou nada para o Estado. A minha ficha nem sequer existe. Eu tenho vários nomes, eu posso ter várias faces e posso estar em vários lugares ao mesmo tempo.

_ Eu vou te pegar, sua puta! O que você quer que eu faça?

_ Você vai transferir um milhão e meio para a conta que eu vou lhe passar. O banco e a agência são…

_ Eu vou transferir agora, mas eu preciso da autorização do banco para transferir todo esse valor.

_Foda-se! Dê os seus pulos. Aliás, você gostou do chocolate? Ele contém uma toxina altíssima, cujo antidoto está na minha bolsa. Você tem até às 5:30 para resolver tudo, enquanto isso eu vou me divertir um pouco.

Marcelo sabia que não conseguiria a transferência, então entrou em casa e foi até a parede falsa do quarto onde escondia todo o dinheiro vivo dos roubos. Estava suando muito e com muita dor de cabeça. Não sabia se aquilo era psicológico ou se era efeito do veneno. Por que foi comer aquela porcaria?

Colocou um milhão na mala e ligou para a irmã, que não atendeu.

No quarto do hotel, Marcelina ficava pela primeira vez com uma mulher. No princípio sentiu estranho, mas depois se entregou. Armando era forte e conduzia a relação de forma perfeita! Nenhum homem a fizera sentir tanto prazer antes!

O telefone celular tocava enquanto as mulheres se entregavam ao prazer inebriante. Não atenderam ao chamado.

Com a arma ao pé da cama e um tom de autoridade militar, Armando ordenou:

_ Tome o seu banho e prepare-se, pois agora você trabalha para mim.

Às 4:00 da manhã, Armando atendeu a ligação do celular. Era Marcelo:

_ Consegui um milhão em espécie e programei a transferência de meio milhão fracionado em dias. Agora solte a minha irmã!

_ No encontro do saguão você poderá vê-la. Assim que eu pegar o dinheiro e eu lhe entrego o antídoto.

Às 5:00 em ponto, Marcelo Grandão estava sentado no sofá do saguão suando feito um porco e com muita dor de cabeça. Armando foi de encontro a ele e lhe entregou uma necessaire pedindo para que ele a abrisse apenas depois que ela partisse dali.

_ A sua irmã está dentro do closet do quarto. Tenha um ótimo dia!

Marcelo pegou o cartão do quarto e furtivamente dirigiu-se a ele. Abriu a porta e entrou no ambiente. Estava asseado. A cama estava arrumada e cada coisa estava em seu lugar. Armando estava tão tonto que se sentou na cama e abriu a necessaire rapidamente. Sem pensar, retirou um frasco de dentro dela e tomou o conteúdo líquido que ali estava. Em seguida abriu o enorme closet e entrou nele. No canto direito e postado sobre a sapateira estava uma arma, a mesma usada para matar Zé Antônio. Marcelo a pegou e investigou.

Armando encontrou Marcelina no estacionamento do Hotel, conforme o combinado. Em seguida as duas entraram no Porche preto estacionado ao lado do táxi de Marcelo e partiram para o seu próprio destino.

Sirenes soavam ao fundo quando Marcelo encontrou o corpo sem vida do amigo dentro de um saco de dormir. Seu rosto estampava um sorriso, o “sorriso do diabo”. Havia um cartão preto em cima da cabeça do homem. No cartão estava escrito “Mr. X”. Desesperado e com a arma na mão ele correu para a porta, mas foi interceptado por policiais que gritavam:

_ Para o chão! Vamos! Largue a arma e coloque as mãos para cima. Vai, vai!

Marcelo viu sua fonte de riqueza secar. Ajoelhou-se com as mãos atrás da cabeça e dali foi levado a passar o que seria o resto de sua vida miserável na cadeia.

Luciano Aparecido Marques